Daniel Fernandes

34, Criador de conteúdo

Quando soube que vivia com HIV, a reação de Daniel Fernandes, que hoje tem 34 anos, foi serena. Um namorado tinha contraído uma IST (infecção sexualmente transmissível) e Daniel resolveu acompanhá-lo ao posto de saúde para fazer exames. Como estavam juntos, a médica decidiu testar os dois. O resultado foi que o namorado não tinha o HIV. Mas Daniel sim.

A médica achou que Daniel estava em choque, ao receber o resultado, dada a sua tranquilidade. Mas ele garante que não foi assim. “Eu estava bem, estava realmente bem. Para mim, não foi tão assustador quanto para a maioria das pessoas. Eu já tinha conhecimento de como era viver com HIV porque eu trabalhava como voluntário num Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), então eu estava tranquilo”, conta ele. “Mas o meu namorado não, estava desesperado, chorando horrores.”

Mas como é que alguém que trabalha num CTA, que tem toda a informação sobre o HIV e a AIDS, pode se infectar? “Bom, eu sou humano, né? E o ser humano nem sempre coloca em prática aquilo que sabe, infelizmente, é uma realidade. Mas eu realmente recebi a notícia de boa. Acho que, de qualquer forma, a informação é muito importante para a gente poder ficar em paz, ficar mais tranquilo.”

Seguindo o conselho do irmão, que foi seu grande companheiro naquele momento, Daniel resolveu adotar a máxima de “conhecer o inimigo” ainda mais. “Foi o que eu fiz. Fui atrás de informação, comecei a conhecer pessoas que viviam com HIV, pessoas que já tinham nascido com o vírus”, lembra Daniel. “E comecei a ter preocupações que não tinha antes: comer bem, dormir bem. Quando você não se entrega à dor, ao problema, fica mais fácil levar adiante. E quando você se ama, é mais fácil vencer barreiras. O HIV deixou de ser um inimigo.”

A tarefa agora era levar esse conhecimento para outras pessoas, inclusive dentro da família…

Daniel nasceu em Imperatriz (MA), mas mudou-se com dez anos para Goiânia. Atualmente mora em Recife. Ele não contou imediatamente para a mãe sobre sua sorologia. “Não queria contar pelo telefone ou pela internet”, explica. Mas toda vez que ia para casa de férias, tinha algum problema grave acontecendo. “Primeiro foi meu avô, que já estava com quase 100 anos e tinha pneumonia. Depois, minha tia teve um tumor no cérebro e precisou fazer uma cirurgia.”

De crise em crise, o tempo foi passando. Em 2015, no entanto, Daniel estava em casa, com a mãe, quando ela resolveu furar seu dedo para um exame de glicose. Sangrou um pouco e, reação imediata de mãe, ela usou o próprio dedo para estancar o sangramento. “Ela meteu o dedo no meu sangue”, lembra Daniel. “Fiquei histérico, louco; pensei: ‘meu deus, vou matar minha mãe!’.”

Percebendo o desconforto do filho, ela imediatamente perguntou o que estava acontecendo. E ele contou. “Ela foi fantástica”, diz. “A única chamada que me deu foi por eu não ter contado antes, por ter esperado quatro anos para contar. Ainda mais que a gente sempre foi muito aberto um com o outro.”

Nesta mesma temporada em Goiânia, Daniel lembra de ter levado muitos “foras” de caras por quem tinha se interessado. “Eu nunca escondi minha sorologia de ninguém, mas especialmente neste meu retorno levei muitos foras”, conta. “Conheci um cara que era pós-doutorando que me disse que não tinha capacidade de lidar com a situação. Um outro, da área da saúde, disse que também não conseguia. Eu pensei, poxa, se essas pessoas não têm conhecimento sobre HIV e AIDS, será que não está na hora de falarmos mais sobre isso?”

Daniel tinha feito um curso de cinema e acalentava a ideia de fazer um canal sobre o assunto. Mas, de repente, uma outra temática, menos comum e sobre a qual sabia talvez até mais, se impôs. “Conversei com a minha mãe sobre essa ideia e ela deu o maior apoio. No dia primeiro de agosto de 2016, coloquei o canal no ar, o Prosa Positiva.”

Como o próprio nome indica, o objetivo do canal é estabelecer, justamente, um bate-papo sobre o tema. “Sempre convido pessoas vivendo ou convivendo com o HIV, ativistas, médicos, pessoas que atuam nessa área, como advogados, nutricionistas. Trouxe também um pouco da discussão sobre transexualidade que ainda é tabu”, conta Daniel.

Além de produzir o canal, Daniel também milita em uma ONG, trabalha em um hotel e cursa a faculdade de turismo. No momento, está sem namorado, mas, admite, essa situação não deve perdurar. “Sou muito namorador, não consigo ficar muito tempo sozinho”, diz. Para o futuro, faz muitos planos. “Eu quero ser pai e, quem sabe avô. Só preciso encontrar o companheiro certo.”

Conheça mais o Daniel: @danndes (Instagram) e Prosa Positiva (YouTube)