Nascido em Cornélio Procópio, uma cidade de 40 mil habitantes no interior do Paraná, Lucas Siqueira Dionísio, de 23 anos, interessou-se pela pauta LGBT e começou a conviver com o HIV tão logo se descobriu gay. “Me mudei para Curitiba para estudar e fazer ativismo e comecei a trabalhar como voluntário na ONG Grupo Dignidade, a segunda mais antiga do Brasil (criada em 1992). Uma das demandas da comunidade LGBT é justamente a questão HIV e da AIDS. E tive dois amigos que faleceram por conta da AIDS, gays e muito jovens”, conta Lucas.
Mesmo não sendo uma pessoa que vive com o HIV, Lucas conta que sente o preconceito na pele. “Quando você é gay, magrinho e trabalha com HIV, você tem HIV”, diz ele. “Mesmo não tendo, vejo o preconceito que se tem por conta do meu estereótipo e porque eu trabalho com essa temática.”
Atualmente, Lucas cursa Ciências Sociais e é o diretor administrativo da ONG, que oferece testagem, encaminhamento, apoio psicológico, diálogo com autoridades, prevenção, assessoria jurídica, entre muitas outras coisas.
Estudo e trabalho se reúnem no atendimento. “Atendo casos positivos num contexto social. Por que não usa preservativo? Por que não quis se testar? Por que não quer se tratar? Como estudante de Ciências Sociais, isso tudo me intriga bastante”, afirma, lembrando que 90% dos atendimentos da área de psicologia da ONG estão relacionados à baixa autoestima e tentativa de suicídio. “A verdade é que quando a pessoa não se ama, não se cuida.”
Homens que fazem sexo com homens são vulneráveis ao HIV porque é mais fácil contrair o vírus por meio de sexo anal. “Mas têm outras questões sociais agravantes porque, na verdade, se trata de uma parcela da população que está mais propensa a fazer mais sexo, de maneira geral, do que os héteros”, avalia Lucas. “As mulheres não são incentivadas a perder a virgindade, a chegar nos caras, a fazer sexo no primeiro encontro, ao contrário dos homens. Então, um casal hétero tende a demorar mais a transar. Mas quando junta dois homens a barreira sexual é bem menor.”
Somam-se a isso as diversas camadas de vulnerabilidades acumuladas por diversas populações e comunidades, em especial entre as chamadas populações-chave, que são as mais afetadas pela epidemia.
Para Lucas, todas essas diferenças devem ser levadas em conta na questão da prevenção. Há muita informação disponível para todos -- hoje mais do que nunca. Mas ela chega, de fato, nas populações que mais necessitam?
“A gente só vai ao dentista quando o dente dói”, afirma. “Ou seja, a informação não chega como prevenção, mas como remédio. Nosso papel, como sociedade civil, é fazer com que essa informação chegue. Já conquistamos muita coisa, como o tratamento gratuito e a PrEP, mas ainda precisamos nos esforçar para avançar.”
Conheça mais o Lucas Siqueira Dionísio e seu trabalho: @lucassiqueira.pr (Instagram) e GrupoDignidade (Facebook)