Mulher, negra e moradora de uma comunidade no interior do Rio de Janeiro, a psicóloga Tamillys Lírio, de 28 anos, convive com o HIV desde 2015 quando participou de um curso de formação de jovens lideranças, organizado pelo UNAIDS e o Ministério da Saúde, com apoio de outras agências da ONU.
“O edital buscava jovens ativistas, vindos de populações vulneráveis que já tivessem algum tipo de atuação, algum envolvimento com o movimento social”, lembra ela. Eram mais de mil inscritos para apenas 50 vagas. E Tamillys foi selecionada. “Conheci uma gente linda, maravilhosa e guerreira”, conta, orgulhosa.
Há dez anos, Tamillys faz parte de uma ONG, a Nação Basquete de Rua, que trabalha com o esporte e também com o movimento hip hop com jovens das periferias e comunidades de Campos dos Goytacazes, no interior do Rio de Janeiro. “Nós trabalhamos o empoderamento dessa galera mais jovem por meio do esporte e da música”, explica a ativista.
O objetivo do curso de formação de jovens lideranças era, entre outras coisas, capacitar ativistas que já tivessem um trabalho importante em diferentes áreas para falar também de HIV junto a seus públicos. “No curso, tive contato muito mais a fundo com essa questão”, lembra Tamillys. “Apesar de ser psicóloga, de trabalhar na área de saúde, sei que o assunto ainda é tabu, não há informação correta, muitas coisas são estigmatizadas; com o curso pudemos dar visibilidade à pauta do HIV nos espaços que ocupamos.”
As experiências vividas como mulher negra e de periferia se somaram a essa nova perspectiva...
A situação é ainda mais complicada e delicada em comunidades carentes, onde todos os moradores costumam frequentar o mesmo posto de saúde local e todos se conhecem entre si. Estratégias para vencer o estigma e o preconceito são ainda mais urgentes, como conta Tamillys. “Eu mesma, quando era mais jovem, morria de medo de ir no postinho, de ir no ginecologista; todo mundo ia comentar, ia dizer que eu estava transando….”
“Como a gente trabalha vulnerabilidade, é extremamente difícil falar de sexualidade em escolas e serviços de convivência”, diz. “Mas com o hip hop, o DJ, o MC, os grafites, é mais fácil. Vamos mastigando esse conteúdo para passar informação correta. Nos lugares mais vulneráveis, onde o estigma é ainda mais pesado, trabalhamos também com oficinas, peças de teatro.”
A sensibilização não é apenas dos jovens mais vulneráveis, mas também dos profissionais. “É muito difícil, por exemplo, fazer a testagem”, conta Tamillys. “Como é que uma menina em situação de risco vai no postinho do lado de casa fazer exame de HIV? Então, é um trabalho de formiguinha, de empoderamento dos corpos que já são estigmatizados por serem negros, por serem pobres.” Na análise da ativista, as mulheres são sempre mais vulneráveis. “Elas têm a questão de classe, de raça, de gênero; quando se soma tudo isso, é um peso a mais”, afirma. “Muitas vezes elas são infectadas pelo próprio parceiro; são expostas ao HIV sem ter a mínima noção. Só descobrem que estão infectadas na gravidez, quando vão fazer exames pela primeira vez. É um trabalho que não pode parar.”
Conheça mais a Tamillys: https://www.facebook.com/tamillysNBR